Aulas de forró gratuitas trazem leveza e bem-estar para o cotidiano do campus
Aulas de dança acontecem todas as quintas-feiras no Instituto de Matemática e Estatística da USP e são abertas ao público, sem necessidade de experiência prévia

Daniel Beppu, professor de dança de salão, está acostumado a encontrar espaços para dançar. Agora, às quintas-feiras, ele empurra as mesas e cadeiras da Sala 5 do Bloco B do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP para criar uma pista de dança improvisada, onde dá aulas de forró gratuitas e abertas para a comunidade.
Enquanto procura a lista de músicas no celular, ele explica como a atividade irá funcionar: todas as quintas, entre 12h15 e 13h45, qualquer pessoa interessada pode participar das aulas de forró, sem necessidade de inscrição prévia. A atividade é uma iniciativa da Comissão de Inclusão e Pertencimento (CIP) do IME.
As CIPs são uma novidade nos institutos da USP. Desde a criação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, em 2022, as unidades tiveram o prazo de dois anos para criarem seus próprios núcleos para organização de atividades pertinentes às realidades e demandas de cada grupo de alunos.
“As aulas vão partir do zero, para quem nunca sonhou em dançar. Temos a preocupação de atingir quem não é da dança e corpos que nunca interagiram com música. Conforme o curso for andando, teremos algo para quem já está avançado, mas também para quem quiser começar depois”, explica o professor.

Ele conta como sua própria jornada com as danças sempre esteve muito ligada à USP. Em 2004, ele começou a frequentar aulas de dança de salão e de capoeira oferecidas por diferentes institutos da Universidade. O anúncio do encerramento das atividades no Instituto de Física (IF), devido a conflitos de agenda, veio acompanhado da proposta de tornar-se professor em um novo projeto de dança, dessa vez oferecido no Instituto de Oceanografia (IO) da USP.
Durante 11 anos, Daniel profissionalizou-se na dança e permaneceu com o projeto das aulas de forró no IO. Após esse período, as atividades foram realocadas para o Instituto de Biociências (IB) da USP.
O professor acrescenta que o convite para liderar as aulas de dança no IME foi feito por Gisela Tunes, professora de Estatística, membro titular da CIP e antiga aluna de Daniel nas aulas de forró do IO. Ela e a professora Renata Wassermann, presidente da CIP, participaram da aula inicial do projeto na última quinta-feira, 20 de março.
Mais dança, menos estresse
Cerca de 50 pessoas estavam presentes na primeira aula de forró do IME. Organizados em pares, cada um deveria decidir se gostaria de atuar como condutor dos movimentos ou de ser conduzido pelo outro. Com cada função definida, Daniel passou a explicar a contagem das batidas das músicas e qual movimento deveria ser executado em cada tempo.

Cada aluno teve a oportunidade de treinar sozinho e depois encaixar a dança com seu par. Durante a aula, as duplas foram sendo trocadas, de modo que os alunos pudessem interagir mais entre si e entrar em sintonia com pessoas diferentes.
“Eles pegam na sua mão e te ensinam desde o começo. Você vai aprendendo e, depois, sempre nos juntamos, então você pode praticar com gente que está começando e com gente mais avançada. Mesmo já sabendo dançar, você aprende algo ao dançar com alguém novo. É uma experiência bem legal”, opina Alice Vinhote, aluna do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
Alice costuma frequentar as aulas de forró no IB e decidiu participar também das reuniões no IME. Para ela, as aulas de dança apareceram como uma oportunidade de incorporar atividades diferentes à rotina da graduação. “Muita gente esquece que a faculdade também é um momento de aproveitar, não só ficar estudando com a cabeça nos livros. Eu comecei no forró porque queria fazer algo além. Então, estou aqui e, sempre que posso, trago alguém junto para conhecer”.
Daniel aponta que a dança é uma atividade terapêutica que exercita a relação entre corpo e mente, e, por isso, muito importante para quem costuma dedicar muitas horas apenas aos estudos. “Às vezes, eles entram em um ritmo de estudo e esquecem que o corpo existe. Passam horas sem beber água ou descansar. A gente está preocupado em reconectar as pessoas com a sensibilidade do corpo, entender os sinais que o corpo dá”.
As professoras Gisela e Renata contam que muitos dos relatos dos alunos à Comissão envolviam questões de saúde mental. “O diretor nos incentivou a organizar atividades mais lúdicas que pudessem melhorar essa queixa de mal-estar dos alunos. Escolhemos a hora do almoço para que mais pessoas pudessem participar e não atrapalhasse as aulas, mas a ideia original era dançar e tocar música nas áreas comuns mesmo”, diz Gisela.
Renata acrescenta que o início do projeto foi adiado em uma semana devido ao falecimento do diretor Sergio Muniz Oliva Filho. “Apareceu essa questão: fazemos agora ou não? Mas essa também era iniciativa dele, então decidimos iniciar na semana seguinte, porque ele queria muito ver a concretização desse projeto.”