Pioneiro na docência em Radiologia Veterinária segue para outro plano

Por Ivete Silva

Benedicto Wlademir de Martin, foi médico-veterinário, professor, orientador, administrador, inovador e, sobretudo, apaixonado pelo que fazia. Se sua trajetória pode ensinar algo, que seja que a  Medicina Veterinária não é apenas ciência, é também vocação. E viver essa vocação foi o sentido de sua vida.  Em poucas palavras, sua trajetória pode ser resumida em vida em busca por clareza — clareza diagnóstica, ética e humana.

Martin faleceu no dia 20 de julho de 2025, aos 90 anos. Morava com a esposa, a pedagoga Zezé, como gosta de ser chamada Maria José Barros Moreira de Martin, de 92 anos. Se conheceram em um baile e namoraram por cinco anos. Casaram-se e tiveram dois filhos. Adotaram mais dois, em agradecimento pela vida que tiveram. Viviam felizes no centro da família que construíram, disse uma vez Zezé, carinhosamente.

Carreira

Ele nasceu profissionalmente em 1959, ao se formar médico-veterinário pela então Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, sem saber que a Radiologia se tornaria sua grande paixão e missão. Nos anos 1960, sua inquietação o levou aos caminhos da especialização: Higiene das Radiações, Reprodução Animal, Raiva, Neuroanatomia. Cada curso era mais que conhecimento — era uma lente para enxergar os animais e o mundo com mais precisão.

Na USP, em 1961, foi contratado como médico-veterinário junto à Seção de Radiodiagnóstico e Fisioterapia da FMVZ, onde também se tornou mestre e doutor.  Em 1968,  se tornou o regente da primeira disciplina no Brasil de Fisioterapia e Radiodiagnóstico, agora na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, hoje, parte da Unesp.

Em 1971, a partir de 1º de abril, ainda na USP, passa a integrar o corpo docente do então Departamento de Cirurgia e Obstetrícia, respondendo pela disciplina de Radiologia, onde chegou a livre-docente. Plantou sementes que germinaram em gerações de profissionais espalhados por todo o país.  Passou a liderar, ensinar e sonhar com algo maior: um hospital veterinário universitário de excelência.

Esse sonho ganhou forma em 1981, quando ajudou a criar e foi nomeado o primeiro diretor do Hospital Veterinário (Hovet) da FMVZ-USP. Por quase uma década, viu o impossível se materializar: foi criada a residência  veterinária, instituídas as reuniões clínicas, e transformada a estrutura hospitalar em um pilar para o ensino e a prática. Martin teve importante contribuição no nascimento de uma nova cultura acadêmica na FMVZ. Se hoje o Hovet apresenta a grandiosidade e a importância que tem, é porque começou em base sólida e consistente. 

Em 1984, inaugurou o Hospital Veterinário da FMVZ-USP, em Pirassununga/SP, único, por longo período, a oferecer atendimento a pequenos animais das propriedades rurais daquela região — uma iniciativa que ampliou o alcance da Medicina Veterinária e reafirmou seu compromisso com o serviço público e o bem-estar animal.

Além disso, sua atuação se estendeu também junto à Faculdade de Medicina (FM) da USP, onde, em 1990, começou a colaborar com o Centro de Medicina Nuclear na implantação do sistema experimental de avaliação da eficiência de radiofármacos e nos esforços para a criação da Unidade Experimental Assistida.

Sua carreira profissional se completou com o título de Professor Titular e depois, com a honra de ser reconhecido como Professor Emérito pela FMVZ-USP e Honoris Causa pela Unesp/Botucatu.  Mesmo após sua aposentadoria em 1991, continuou sua jornada: fundou o Instituto Veterinário de Imagem e deu continuidade à missão de formar especialistas. Ensinou mais de mil alunos em cursos de diagnóstico por imagem e urgência, sempre buscando unir precisão técnica com sensibilidade clínica.

No campo associativo, representou a América do Sul na International Veterinary Radiology Association, fundou o Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária, e atuou com dedicação em comissões de ética e desenvolvimento profissional. Na Academia Paulista de Medicina Veterinária (Apamvet), ocupava a 14ª cadeira, cujo patrono era Ângelo Vincenzo Stopiglia.

Hoje, ao olhar para trás, na sua história, não se vê  apenas títulos, cargos ou publicações. Vê-se pessoas. Seu legado ressoa no contínuo compromisso com a ciência, a ética, a busca pelo novo. 

Com gratidão infinita, a FMVZ-USP rende essa singela homenagem ao professor Benedicto Wlademir de Martin.