Mais jovem doutora da FMVZ-USP estudou em escola pública

Mais jovem doutora da FMVZ-USP estudou em escola pública

A catarinense atualmente faz pós-doutorado na Unicamp

Germana Vizzotto Osowski | Foto: Gabriela Malara, FMVZ-USP Imagens

A menina nascida em Concórdia, no Oeste de Santa Catarina, em uma família simples,  sofreu bulling no ensino fundamental e utilizou a leitura como conforto para superar os momentos difíceis. 

Estudou sempre em escola pública e nunca foi a melhor aluna da turma, mas sempre se esforçou, pois sentia que devia isso aos seus pais e queria deixá-los orgulhosos. Atualmente faz pós-doutorado na Unicamp.

A menina que se tornou cientista Foto: Acervo pessoal

Bióloga de formação, Germana Vizzotto Osowski, com 26 anos, defendeu sua tese de doutorado na FMVZ-USP em 2022 e é a mais jovem doutora da Faculdade,  desde 2015 e a  segunda mais jovem, desde a criação da pós-graduação, em 1976. 

Abaixo, um relato de sua trajetória e motivação.

A preparação

Na minha cidade os únicos cursos pré-vestibulares disponíveis eram muito caros, mas fui selecionada pela escola em que eu cursava o ensino médio  para participar do curso pré-vestibular oferecido, de forma gratuita. Como era ministrado à noite e ficava distante da minha casa, precisei convencer meus pais para participar. Deu certo.

O início 

Me formei em Biologia, pela Unoesc Joaçaba/SC, em 2018. No início da graduação, fui estagiária com função de monitora ambiental em uma Unidade de Conservação do Parque Estadual Fritz Plaumann. Fazia trabalhos de educação ambiental com a comunidade e acompanhava o trabalho dos pesquisadores.Depois de aproximadamente um ano, comecei um estágio de Iniciação Científica na Embrapa Suínos e Aves,  em Concórdia. Inicialmente atuei na área da virologia, em seguida na área da bacteriologia, mais especificamente com biologia molecular. Sempre trabalhei com doenças zoonóticas e esse sempre foi meu maior interesse.

Durante os quatro anos na Embrapa, sai por um curto período de tempo para  trabalhar em uma empresa de diagnóstico que presta serviço ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Infelizmente, fiquei apenas o período de experiência. Embora o salário fosse bom,  fiquei com pouco tempo para me dedicar à minha formação, então achei melhor voltar para os projetos de iniciação científica e focar na minha graduação.

O dinheiro do meu acerto na empresa me permitiu fazer um estágio em Indaial/SC no Projeto Bugio, onde eu acompanhava os trabalhos de rotina com os primatas. Na época eu estava interessada em trabalhar com febre amarela e tinha como meta participar de uma equipe que trabalhava com isso na  Universidade Regional de Blumenau (FURB), mas acabou que a vida me levou para outros caminhos e a febre amarela ficou para um projeto futuro.

Doutorado

Quando terminei minha graduação eu entrei para o doutorado direto no programa de Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS) da FMVZ. A USP é uma das poucas universidades no Brasil que possibilita “pular” o mestrado. Ter entrado direto para o doutorado foi um desafio, mas não me arrependo.  

A vontade de fazer pós-graduação começou na iniciação científica, cheguei ao doutorado porque fiz meu melhor pelos projetos que participei, as pessoas reconheceram meu trabalho e me ajudaram a chegar até aqui. A verdade é que essa conquista eu devo a todos que estiveram comigo.

Inspiração

Professor Fernando Ferreira entre Germana, à esquerda e a professora Sabrina, à direita Foto: Acervo pessoal

Duas pessoas foram essenciais na minha vida e são minha inspiração: minha orientadora da iniciação científica e coorientadora do meu projeto de doutorado, a professora Sabrina Castilho Duarte, atualmente supervisora do meu projeto de pós-doutorado. E meu orientador do doutorado, o professor Fernando Ferreira,  que sempre me apoiou e acreditou no meu potencial. Perdi as contas de quantas vezes ele não me deixou desistir. O doutorado foi uma tarefa difícil e eu não teria conseguido sem ele.

Dificuldades

Sair de Concórdia para vir para São Paulo, foi uma das coisas mais difíceis que já fiz. Especialmente porque ao chegar ao Laboratório de Epidemiologia e Bioestatística (LEB) eu descobri que não dominava as ferramentas necessárias para trabalhar com Epidemiologia.  Todos os meus colegas utilizavam linguagem de programação, eu não tinha a menor ideia de como aprenderia algo tão difícil, então eu procurei focar todos os meus esforços para aprender essas ferramentas. Levou algum tempo e acabei gostando e me identificando muito com a análise de dados. Não desistir é o segredo.

Posso dizer que aproveitei ao máximo meu doutorado, fiz muitas disciplinas e completei 91 créditos, basicamente focados em epidemiologia e análise de dados.

O céu é o limite

Nesses quatro anos de doutorado, terminei meu projeto; ministrei uma disciplina de Epidemiologia no Instituto Pasteur, minha primeira disciplina como professora,- uma experiência muito legal, adoro dar aula; fiz análises estatísticas para colegas do departamento e da faculdade; além de trabalhos para outras universidades. Ainda prestei serviço para empresas como Embrapa e Diamond V dos Estados Unidos. Atualmente eu estou fazendo pós-doutorado na Unicamp. É um projeto que envolve detecção de Salmonella sp utilizando Inteligência Artificial. 

 Conselhos 

Aos jovens que aspiram pela carreira acadêmica aconselho a fazer estágios nas áreas que tenham mais afinidade. Eventualmente, também se aventurar nas áreas em que nunca se imaginou trabalhando, pois pode ser surpreendente.   Os estágios durante a graduação auxiliam na decisão da área a seguir e, também, possibilitam conhecer pessoas experientes que podem ajudar a alcançar seu propósito.  Uma vez uma professora me falou uma frase que eu nunca mais esqueci e levo isso para a minha vida e pode fazer diferença na sua:  ‘Não se deixe abalar pelo que você acha que é difícil, só é difícil porque você ainda não conhece.’

Futuro

Eu quero continuar na epidemiologia e na área de ciência de dados. É o que eu gosto de fazer, mas o que me move é entregar o melhor trabalho, seja onde eu estiver; dentro de uma sala de aula ou no campo, farei meu melhor.

Sobre o título de mais jovem doutora da FMVZ Germana diz: “Me sinto honrada, por fazer parte da história da FMVZ-USP e por ter contribuído para a ciência de alguma forma”.

Clique aqui para conhecer a tese de doutorado defendida por Germana.

Foto de capa: Gabriela Malara, FMVZ-USP Imagens